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segunda-feira, 29 de junho de 2009

INDEPENDÊNCIA DA BAHIA

A dissertação trata da memória da Cidade do Salvador, através do estudo da comemoração cívico popular, o Dois de Julho, enfocando suas transformações nos séculos XIX e XX. Desenvolve-se a hipótese de que sua construção aportou uma representação da Salvador oitocentista e incorporou, ao longo da sua história, expressões simbólicas das transformações de determinados espaços da cidade e vice-versa. Em 1824, surgiu, na cidade de Salvador, uma comemoração à Independência da Bahia, conhecida hoje como "Dois de Julho". Relata-se que, no dia Dois de Julho de 1823, a população de Salvador acompanhou por ruas e praças a entrada do exército brasileiro na cidade, formando um imenso cortejo, uma verdadeira festa em movimento. O Dois de Julho constitui-se em um complexo conjunto de comemorações cívicas em Salvador e no Recôncavo. Seu principal evento, em Salvador, é o cortejo do dia 2 de julho que reproduz a retomada da cidade pelo exército "brasileiro", após ser abandonada pelas tropas portuguesas em 1823. Viu-se, no decorrer da dissertação, como o Dois de Julho passou a servir a diversas representações da identidade baiana até o século XX. As autoridades imperiais e eclesiásticas viam, no Dois de Julho, oportunidade de auto-afirmação e um momento em que se celebrava a conquista da liberdade do jugo português; já para os populares, era uma oportunidade para a realização de protestos contra os altos preços dos produtos vendidos nos armazéns dos portugueses. O Dois de Julho apresenta-se como uma porta de acesso à história da cidade do Salvador e justifica-se ainda por explicitar a realidade baiana diferentemente de um contexto nacional ou internacional generalizante que tem sido a base dos estudos urbanísticos. Foi analisada a fase de criação dos ritos e a representação de seus componentes espaciais, abordando o início da construção dos monumentos comemorativos e as primeiras transformações no percurso desenvolvido pelo cortejo, no período do Império. Na República, pode-se ver como essa festividade assume um caráter civilizatório, de controle social na Bahia republicana das reformas urbanas do governador J.J. Seabra, no início do século XX. O cortejo ganhou novo trajeto e novos monumentos, seguia o fluxo do crescimento dos bairros ricos, no sentido sul da Vitória, Graça e Barra. O sentido norte cresceu tanto quanto só, que nos bairros pobres da Liberdade e São Caetano. Essas redefinições identitárias afetaram o anterior símbolo oitocentista do Dois de Julho e, na segunda metade do século XX, a produção simbólica de Salvador continuou sofrendo transformações, com o crescimento urbano acelerado, quando se estabeleceu um corte na relação espaço-memória, e se deixa de produzir monumentos ao Dois de Julho que marquem os fatos da guerra da Independência da Bahia, em seu locus originário, passando agora essa memória a constar de novos lugares da cidade contemporânea, sem nenhuma relação de espacialidade com a cidade do século XIX.
Banca: Profa. Maria Helena O. Flexor (orientador)Prof. Pedro de Almeida Vasconcelos (docente)Profa. Maria Conceição Barbosa da Costa e Silva (membro externo)

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